O que é o Ensino Afetivo

O que é o Ensino Afetivo

O que é o ensino afetivo do inglês? Como é que exatamente educadores envolvem alunos para aprender uma nova língua integrando emoção, cognição e linguagem?

A resposta para esta pergunta me intriga por pelo menos 20 anos e ainda hoje me sinto fascinado pela simplicidade e complexidade do ensino afetivo de idiomas e principalmente inglês para crianças.

Mesmo tendo estudado o tema por quase duas décadas, eu ainda me considero um aprendiz nesse vasto domínio. A seguir eu apresento algumas características-chave e posturas pedagógicas presentes no ensino afetivo de línguas.

O que não é Ensino Afetivo

Um entendimento errôneo do ensino afetivo é que o professor é mais um amigo do que realmente um professor.

Nessa concepção as crianças “aprenderiam mais” sempre que gostassem do professor. Professor este que pode ser assim influenciado a fazer somente o que a criança quer ou sabe, resultando em uma mistura de improvisação e permissividade.

Por último, o ensino afetivo não tem nada a ver com beijar, abraçar ou elogiar excessivamente aos alunos.

O Ensino Afetivo

O ensino afetivo é o ato democrático de conferir poder a alunos e educadores com o objetivo de aprendizagem conjunta em uma relação afetivo-pedagógica, consciente, curiosa e comprometida.

Respeitar

O ensino afetivo exige que respeitemos os alunos. Isso acontece quando valorizamos e aceitamos suas histórias, credos, religiões e status sociais, mesmo quando diferentes dos nossos. Nós respeitamos nossos alunos quando os escutamos com atenção, quando pedimos suas opiniões com sinceridade e quando valorizamos seus conhecimentos de verdade.

O respeito está presente quando cumprimos as nossas promessas, quando deixamos que se expressem com seus corpos e certamente quando acreditamos que todos os alunos são capazes de aprender, de formas diferentes, sem desistir  de nenhum deles.

Escutar

O ensino afetivo exige que escutemos os alunos. Quando educadores escutam seus alunos, conseguem conhecer histórias prévias de aprendizagem, medos, expectativas, sonhos e paixões. Esses mundos internos dos alunos são extremamente importantes para o planejamento de aulas futuras, uma vez que os estados emocionais dos alunos influenciam e propulsionam a aprendizagem. Importante também é escutar com os olhos, ouvir aquilo que não é dito, já que o silêncio pode revelar sentimentos e pensamentos que não estão ainda prontos para ser expressados.

O educador pode escolher verbalizar essas mensagens silenciosas e trazê-las para discussão, sem identificar alunos, pedindo que a turma como um todo confirme sua impressão. O momento de roda é importante para todos nós, não somente para as crianças mais jovens. Esse tempo não é perdido, e sim investido na formação de vínculo com o grupo e entre o grupo. É fascinante e recompensador ver como os alunos ficam entusiasmados quando percebem que realmente os escutamos e preparamos algo especificamente significativo para eles.

Comunicar

O ensino afetivo exige que nós nos comuniquemos autenticamente com os alunos. Isso significa usar o inglês sempre como um meio real de comunicação, com o qual trocas autênticas acontecem, como quando educadores fazem perguntas para as quais eles realmente querem saber a resposta.  Perguntar a alunos “Is this a frog?” quando mostramos a figura de um cachorro não faz nenhum sentido. Quando a linguagem é utilizada dessa forma alienante, as crianças perdem a motivação para aprender (e os professores para ensinar) porque a língua está dissociada de suas vidas, é uma língua morta, sem brilho. Educadores devem sempre se perguntar como as crianças se sentiriam se escutassem o que eles estão dizendo em português. Se for percebido como bobo ou sem sentido, a língua não está certamente sendo utilizada como um meio de comunicação. No encontro da vida dos alunos e do educador com a língua autêntica surge uma língua viva.

Expressar com Afeição

O ensino afetivo exige que nos expressemos afetivamente. O afeto não está presente somente nas nossas palavras, mas principalmente em como nós nos expressamos. Nosso tom de voz, volume, velocidade e entonação carregam mensagens de aceitação, paciência, parceria e fé. O afeto também está presente no nosso discurso modificado, mais lento, mais redundante, com cognatos e gestos, que permite que os alunos entendam e interajam com a gente com sucesso. Não podemos nos esquecer de nossa linguagem corporal, principalmente de nosso sorriso, olhar e movimentação na sala de aula.

Aguçar a Curiosidade

O ensino afetivo exige que nós nutramos a nossa curiosidade e a dos alunos. A curiosidade faz com que o ensino seja muito mais interessante e divertido para todos. A curiosidade pode ser aumentada com novidades, contradições e perguntas cativantes. A curiosidade acontece quando nós admitimos o nosso não-saber, saímos da nossa zona de conforto e nos aventuramos em saber mais sobre diferentes animais, comidas, lugares, culturas e pessoas juntamente com os alunos. Educadores podem incentivar a curiosidade das crianças por meio da música, poesia, literatura, teatro, dança e outras formas de expressão artística. Curiosidade também sobre nossas famílias, animais de estimação, hobbies e principalmente sobre o aprender. Escutar os outros e falar sobre nós mesmos em inglês é uma experiência afetiva intensa, na qual a lingua é utilizada como um meio real de comunicação. E vale sempre lembrar que devemos ser curiosos, mas não xeretas.

Compartilhar decisões

O ensino afetivo exige que compartilhemos poder na sala de aula. Compartir poder acontece quando os professores tomam decisões juntamente com os alunos sobre o conteúdo e possíveis caminhos para a aprendizagem. Os alunos se sentem poderosos quando podem ensinar seus colegas, se autoavaliar e escolher como fazer tarefas. Mas, principalmente, compartir poder acontece pela escuta e pelo espaço de fala, quando estamos presentes na relação.

Autopercepção

O ensino afetivo exige que tenhamos autopercepção. Isso implica estarmos atentos a nossa presença física, nossos movimentos, nossa escuta, nossa fala, nosso respeito e compromisso com os alunos e com os nossos credos. A autopercepção pode ser desenvolvida por meio da reflexão sobre a dinâmica da sala de aula por diários reflexivos, supervisão mútua e por autogravação. Meditação, ioga e mindfulness são caminhos de autoconhecimento que podem nutrir nosso bem-estar e criar maior disponibilidade com nossos alunos. Para isso passamos por um processo no qual sentimos nossos preconceitos, incompetências e impaciência e aceitamos que somos também aprendizes como educadores e pessoas.

Juan Uribe
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